A (bio)política do medo

TV apagada

Por Thiago Burckhart, para Desacato.info

O medo é um dos sentimentos mais primitivos do ser humano. Um sentimento produzido inconscientemente a partir dos alertas que são captados por nosso cérebro. Esse medo que a cada dia cresce em nossa sociedade é alimentado por uma manipulação grotesca feita pelo grande monopólio/oligopólio midiático no Brasil e no mundo. Ainda é incentivado por muitos Estados, como os Estados Unidos fizeram logo após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Esse fenômeno é algo interessante, em recente pesquisa realizada pela DataFolha no ano de 2013, constatou-se que sentimos mais medo hoje do que há 20 anos atrás. Apesar dos números de homicídios na cidade de São Paulo terem caído drasticamente de 1999 até 2011, o medo deles só aumenta. Vivemos em uma sociedade amedrontada, numa sociedade que tem medo de falar, de se expressar, dos pobres, dos marginais, de todos aqueles que no dito senso comum da classe média acredita-se que possa lhes fazer algum mal.

Uma sociedade amedrontada

O medo – que aumenta diariamente – é fruto de um mecanismo, um instrumento de dominação de massas. Essa dominação assume um conotação política (e mesmo biopolítica) quando é impetrado pela grande mídia e pelos Estados. Assim, como Michel Foucault já ensinava, nossos corpos passam a ser docilizados e diretamente manipulados. Passamos a entender e a aceitar que conviver com o medo – o medo midiatizado e sensacionalista da sociedade do espetáculo – faz parte do nosso dia a dia, é normal.

Em termos sociais, o medo é um dos temas tratados no filme “A Fita Branca” (2009) de Michael Haneke. Esse filme se passa na Alemanha nos anos anteriores a Primeira Guerra Mundial, ou seja, a geração que o filme demonstra é a mesma que futuramente adere ao regime Nazista. O filme aborda que a sociedade daquela época eram estruturalmente caracterizada pela disciplina pautada na frieza, no medo, no mal, na covardia e na ignorância. Todas as meninas e meninos quando pequenos tinham uma fita branca amarrada em seus braços, como símbolo de pureza e inocência, como uma forma de se lembrar de seguir aos valores daquela sociedade. Em termos gerais, nossa sociedade atual está muito parecida com o que demonstra esse filme.

Mal-estar contemporâneo

Seja pela situação política, econômica ou mesmo bélica que ainda perdura no mundo contemporâneo, o medo é um fator presente nas variadas facetas da vida. Uma sociedade amedrontada também tem medo de lutar por seus próprios direitos. São poucos os que hoje se arriscam a participar de protestos e manifestações públicas, haja vista o medo da repressão policial.

Os ricos se exilam em suas mansões ou condomínios que contam com guardas e vigilância 24h por dia. De fato, o medo também alimenta uma indústria, a indústria da segurança privada, que ganha muito dinheiro às custas do medo pulverizado e difuso em praticamente todas as classes sociais. Já os pobres são os que mais diretamente sofrem com essa política, pois além da estrutura ideológica que lhes influencia existe uma estrutura econômica que lhes debilita.

Dessa forma, uma sociedade amedrontada pela (bio)política do medo é uma sociedade que está à serviço dos interesses dominantes, da ideologia dominante, do neoliberalismo, e do capital. O mal-estar criado por essa (bio)política é fruto de um processo ideológico e político que assistimos diariamente.

Nessa situação talvez um ato de protesto e conscientização seja o de não se deixar enganar pelo sensacionalismo. Talvez um ato de resistência seja a simples postura de desligar a televisão…

Thiago Burckhart é estudante de Direito.

Foto: StockFreeImages.

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