A América Latina deve se preparar para enfrentar o ataque dos Estados Unidos

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Por Atilio Borón.

Tradução para Desacato.info: Elissandro dos Santos Santana.

La Paz, 17 agosto (ABI). A América Latina deve se preparar social, política e militarmente contra a decadência imperial que não está disposta a renunciar ao controle da região porque a considera “uma área de segurança não negociável”, disse, na quarta-feira, o professor Atilio Borón, em uma conferência magistral que realizou perante mais de 70 alunos da Escola Militar Anti-imperialista, que foi inaugurada pela manhã pelo Presidente Evo Morales no Estado de Santa Cruz de la Sierra.

Borón, que chegou à Bolívia para dar início às atividades deste centro de estudos especializados em torno das temáticas da soberania nacional, é um cientista político e sociólogo argentino, de orientação marxista com claras convicções anti-imperialistas na defesa da soberania do continente latino-americano.

Após a inauguração da Escola Militar Anti-imperialista, Borón foi o responsável por proferir a aula magna aos alunos deste instituto castrense e, em seu discurso, ele advertiu que os Estados Unidos não hesitarão em utilizar todos os recursos à sua disposição para impedir que a América Latina se consolide como potência regional em função dos projetos políticos de soberania que possui para o Continente.

“A situação atual do imperialismo é tremendamente delicada. Está em crise, porém, isso não pode fazer com que baixemos guarda e pensemos que porque está em crise serão menos agressivos ou violentos. Ao contrário, a história nos prova que a etapa mais violenta dos impérios é aquela na qual se começa sua decadência”, afirmou o professor.

“Devemos nos preparar social, política e militarmente porque os Estados Unidos não vão entregar facilmente um território que eles consideram parte de sua identidade nacional”, acrescentou.

Para fundamentar sua tese, Borón relembrou que esteve presente na apresentação do livro El gran tablero mundial, de Zbigniew Brzezinski, cientista político estadunidense que foi Conselheiro de Segurança Nacional de quase todos os governos estadunidenses das últimas décadas, quando o autor do livro falou de todas as regiões do planeta, mas evitou se referir à América Latina.

“Quando lhe perguntei a razão dessa omissão, respondeu-me o seguinte: os senhores devem entender que a América Latina é, para nós, um capítulo da política doméstica dos Estados Unidos, que não estamos dispostos a discutir com ninguém. Não falo no livro sobre a América Latina como não falo sobre a Califórnia, Nuevo México ou Nova York. A América Latina é uma área de segurança não negociável por parte dos Estados Unidos”, finalizou.

“Esta confissão impressionante e muito esclarecedora revela algo que os latino-americanos devemos ter guardado em nossa mente. Segundo os Estados Unidos estamos predestinados pela providência a ser seu vagão. Todas as doutrinas militares dos Estados Unidos insistem em que sua segurança nacional depende do que eles chamam de a grande ilha americana, desde o Alaska até a Argentina, um território que deve ser politicamente compacto e onde não deve haver governos que estabeleçam fissuras, porque isso é uma ameaça muito séria à sua segurança”, afirmou o acadêmico.

E isso é, precisamente, o que se colocou em questão com os processos progressistas que ocorreram na América Latina.

“Esta mudança começa com a vitória do presidente Hugo Chávez na Venezuela e se estende por todo o continente. A América Latina entrou em rebelião. Líderes importantíssimos como Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa e outros entraram em cena e mudaram o mapa geopolítico internacional”, colocando em dúvida o projeto hegemônico que os Estados Unidos afagavam, comentou Borón, citado em um boletim institucional.

Atualmente, os latino-americanos “vemos como a situação do império é muito delicada, porque houve o fim do cenário geopolítico bipolar e tem rivais muito fortes como Rússia, China e Índia e, por outro lado, aliados cada vez mais fracos na União Europeia”, finalizou o cientista político e assegurou que, a partir desse marco, o império estará disposto a utilizar qualquer estratégia, como a contratação de mercenários, contribuindo para fenômenos como o surgimento do Estado Islâmico, a crítica situação da Ucrânia ou a imposição de tratados comerciais para disfarçar seus objetivos militares e geopolíticos, para evitar que seu domínio seja questionado.

“O objetivo do Tratado Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP) é estabelecer um acordo ultra-neoliberal para isolar a China do contexto internacional e a Aliança do Pacífico é um acordo para debilitar a presença desse país, da Rússia e da Índia na América Latina”, apesar de que este tipo de acordo seria “suicida para nossos países”, explicou Borón e acrescentou que o pior erro da região seria “assumir como própia a agenda dos Estados Unidos”.

Qual seria, então, a melhor estratégia para a América Latina? Conforme Borón, se consolidar como um território de paz, neutralizar a guerra cultural que promove o país do norte consagrando a ideia de que os Estados Unidos são o país modelo ao qual devemos imitar porque qualquer modelo alternativo é retrógrado e reafirmar a união latino-americana anti-imperialista, como colocavam o Libertador Simón Bolívar e o Comandante Hugo Chávez.

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Fonte: Consulado de Bolivia.

 

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