E o fundamento, explica a razão da distorção?

Por Victor CaglioniColombia: festival vallenato

Entre muitos os emails que um pode receber de amigos, a rede às vezes possibilita boas e más notícias, como também pode proporcionar a refletir sobre algum tema.

Um desses emails que qualquer um de nós pode receber via nossas redes de contatos, se trata do registro de nome civil dos indígenas colombianos, por parte de funcionários públicos locais, com términos que no mínimo soam há um imenso desrespeito ao humano, para não mencionar, descaso.

Essa situação coloca a par, os leitores de uma parte muito triste da sociedade colombiana, agrega-se a isso as muitas notícias ruins que nos chegam daquele país, e talvez até se perguntar, como a sociedade colombiana ainda não mudou sua relação com todo esse processo?

Quando se convive com colombianos, existe a oportunidade de ter amizades, amores ou qualquer tipo de relação que nos aproxima a esse povo, percebe-se que embora exista muita luta naquele país, há uma considerável parte de sua população que apresenta um sentimento controverso sobre suas lutas.

Um tremendo repúdio ao político, ao que tem que ver com o Estado, um medo em relação às formas de poder instituídas, percebíveis mesmo quando estes já não estão mais em seus países.

E antes que possamos julgar-los e colocar a “culpa” pelos problemas de seu país na causa desse sentimento de repúdio (argumento comum aos republicanos liberais de plantão, ou mesmo aos esquerdistas ortodoxos) é interessante nos questionarmos do por que, desse descaso, que por vezes ruge de forma muito similar a certo discurso que volta e meia anda por ai na nossa classe média conservadora, porém essa última sem uma razão compreensível para tal, que não seja apenas a “ignorância” sobre o tema com a manipulação consentida ou não!

Um discurso de que não se pode confiar em políticos nem no estado para nada, (ainda que sabemos que os jogos do poder não seguem regras muito claras) vem de longa data de sofrimento, de provações e de muita repressão. Parte da população colombiana sofreu tanto por causa de ações políticas, sejam elas em nome de discursos conservadores (a maioria) ou libertários, que hoje se nega a participar de forma mais ativa em movimentos políticos.

Ah mas sempre alguém vai dizer, que isso se trata de apenas uma parte da população colombiana, e que essa análise não contempla a todos. Obviamente, que sim sempre existem os que seguem suas lutas por ideais sejam quais forem, e não devemos esquecer desses, assim como não podemos esquecer e/ou responsabilizar os demais não ativos ao processo de luta, sem saber seus motivos para tal.

O que não é o mesmo, que escutarmos uma classe média que reclama do Estado o tempo todo, por que não pode pagar apenas um salário mínimo para ter uma empregada doméstica, comprar carros ou celulares importados com menos impostos etc. Tratamos de pessoas que carregam consigo famílias destruídas, falta de emprego, dificuldades para estudar, de morar, de viver suas vidas de forma mais propícia ao desenvolvimento de suas habilidades emotivas e de trabalho. (não negamos que existam aqueles que por ventura o conseguem).

Tem sido comum escutar desses hermanos mais ao norte, que em nossos discursos por uma Colômbia livre, desde um afora, não sentimos as mortes, os desaparecidos, as repressões morais, a exploração e violência gratuita que sofre os Outros…

Não cabe no discurso de parte dessa sociedade, que pela política é possível mobilizar alguma coisa, ainda que limitada transformação social. Cabe a essa parcela da população um distanciamento da política, agregada a uma sensação dolorosa de responsabilidades por coisas más e não pela possibilidade de coisas boas.

Seguramente sabemos que não é o único povo do mundo que vive esse sentimento, mas sim devemos constatá-lo. A mobilização popular tal qual conhecemos pelos lados argentinos, chilenos, brasileiros ou peruanos acontecem de forma diferentes, de acordo com a história de cada país e como sua sociedade reage sob essas premissas, reacionar contra a população que se abstém da política, mesmo que sabemos que essa acaba fortalecendo a parte mais dura de toda essa história, nos acaba colocando, em casos como esse, em contra as também vítimas da situação.

Não faltam profissionais dedicados, com seus intelectos atiçados, encantadores seres humanos colombianos para provar que apesar de tudo isso, eles saem a dançar seu ballenato típico e a distribuir algum sorriso.

Tentam tirar o tempo todo a dignidade dos colombianos, retirar suas atenções a suas lindas e férteis terras, paisagens, a sua cultura própria e tudo mais. Sobre os indígenas nos chega apenas um retrato de todo esse processo de dominação. Os indígenas que lamentavelmente sempre foram mal tratados pelas sociedades “civilizadas”, representam à pontinha de iceberg do desprezo, em relação ao que a antropologia social tende a chamar de “cultura dominante” tem sobre a “cultura popular” (dominada).

Se servir de reflexão, a cultura popular nunca é totalmente submissa, sempre interage, provocando mudanças nas relações sociais. Portanto sempre há movimento, mesmo daqueles que “não se movem”. E se há movimento é por que as coisas podem mudar…

 “Se num primeiro momento a idéia não é absurda então há esperança para ela”

Albert Einstein

 

 

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