13 e 15 de março: para que marcham, uns e outros?

letreroPor Raul Fitipaldi, para Desacato.info.*

Entre a marcha do dia 13, uma marcha inegavelmente dos trabalhadores, apoiem estes ou não o governo de Dilma Rousseff, e a marcha do dia 15, chamada pela oligarquia, há umas reflexões que se deitam encima da pergunta que serve de título a este artigo.

Marcham no dia 13 os trabalhadores brasileiros, os estudantes, os movimentos sociais, para mudar diametralmente o sistema econômico e político do Brasil? Lamentavelmente não.

Os oligarcas marcham no dia 15 para engrossar a ofensiva imperialista e capitalista que tenta desestabilizar as democracias da América Latina e do Caribe? Infelizmente sim.

O ato do dia 13 é insuficiente, mesmo reivindicando as conquistas perdidas, querendo mudanças constitucionais, defendendo a democracia e sendo muito representativa a lista dos que convocam. A marcha está programada nos limites do atual sistema de dominação. È claro que é decisivo defender a democracia ante o ataque oligárquico-imperial. Claro que há que recuperar direitos, mas, sobretudo, há que mudar as regras de correlação de forças que sempre dão vantagem à classe inimiga dos trabalhadores. Talvez o mais importante desta marcha seja a exposição das contradições que vive a Classe Trabalhadora com seus dirigentes.

É cada vez mais claro que nas regras de jogo da democracia representativa burguesa, os direitos dos trabalhadores sempre estão amarrados a um Congresso Nacional destituído de seriedade, inútil à luta de classes e serviçal às transnacionais. A um Poder Judiciário a serviço das oligarquias tão hereditárias como ele próprio. A uma lógica de partidos que, por mais à esquerda que se denunciem (há de se desconsiderar o discurso que é tão farto em ausência de respostas superadoras em toda a esquerda brasileira, em todos seus partidos) vai parar num sistema eleitoral indireto onde a democracia é vulnerada a diário.

Também é insuficiente a cobrança de rigor contra os corruptos desta conjuntura, embora necessária. Na corrupção imperante, corruptores e corruptos são produtos do sistema capitalista animado pelos interesses oligárquicos pátrios e aliciado pelas empresas estrangeiras e transnacionais. O sistema é corrupto, corrompe e consolida a corrupção como forma de vida. Naturaliza a desagregação social, desestimula a honestidade e torna a escravidão moderna, sua forma de produção.

Por isso a marcha do dia 13, além de uma marcha para defender a democracia e os direitos dos trabalhadores, contra a corrupção e a desestabilização, deveria ser, frontalmente, uma marcha anticapitalista e anti-imperialista que exija a mudança radical do sistema político e econômico do Brasil. Os dirigentes e lideranças que convocam essa marcha sabem que a Luta de Classes se acirra novamente no Brasil de forma intensa e com um fim sem prognóstico imediato, e isso independe das doses de governabilidade e respaldos que o atual executivo nacional possa obter com esta e outras mobilizações.

A “marcha cívica” do dia 15 é constituída pelos inimigos dos trabalhadores. Somará escravos modernos que foram inoculados com a antiga cantiga da alternância e o sonho dourado de serem ianques, europeus, menos pobres, favorecidos pelas oportunidades que os possam tornar donos de uma migalha do bolo. Nenhuma mudança pode oferecer a direita. Pode oferecer um golpe, porque esse é o acordo transnacional e imperial e essa é prática antidemocrática dos ricos, dos modernos bandeirantes, da sociedade industrial que tem asco dos trabalhadores, pânico dos pobres, ódio constante e ilimitado à liberdade dos escravos.

A “marcha cívica” é uma tentativa de destruir os poucos avanços, mesmo que assistencialistas, que houve no Brasil, mais, sobretudo, destruir a unidade que América Latina e o Caribe foram semeando a partir da liderança de Hugo Chávez, com a criação da UNASUL, a CELAC, Petrocaribe, o Banco do Sul, e outras ferramentas que acabaram influindo, mesmo que modestamente, em algumas lideranças da esquerda e do progressismo brasileiro.

O governo brasileiro não é nem de perto um governo socialista, nem progressista, mas teve algumas atitudes fora do eixo ianque e eurocentrista, estreitando suas relações com os países da região latino-americana e caribenha. Isso mexe com a os interesses do império e do ocidente nortenho em geral.

O Brasil ficará, de um modo ou outro, mais visivelmente dividido. Já está dividido desde a campanha eleitoral de 2014. Isso, bem além da questão pontual da Petrobrás, do HSBC, do que provenha das Olimpíadas de 2016, e outros pormenores conjunturais.

Há um Brasil gigante, escondido, pobre, indígena, negro, periférico, acima de sul e sudeste, brutalmente real, esfomeado, adoecido, desempregado, que deverá, fora destas marchas agendadas, institucionais, formais, ocupar as ruas. Deverá redesenhar as avenidas, ocupar os parques e as praças, exigir com veemência a mudança radical do país, e outra opção da que oferecem estas manifestações, mesmo reconhecendo a legitimidade de classe da do dia 13. Impossível pensar em reconciliação alguma com os exploradores e suas instituições, em crise crônica.

Há que marchar, de uma vez por todas pelo Poder Popular, numa grande Frente Única, Social e Política que trace a vitória definitiva dos Trabalhadores.

 * Raul Fitipaldi é jornalista e co-fundador do Portal Desacato e da Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura – CpCC

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