11 de setembro brasileiro – Conclusões

 Por Raul Longo.

Em 17 de Julho de 2007 o acidente de uma aeronave da TAM no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, vitimou 199 pessoas. Poucos minutos depois do trágico fim dessas vidas a mídia brasileira responsabilizava diretamente o então Presidente Lula.

Questionado sobre a difusão nacional de informação tão leviana e infundada, Ali Kamel arranjou esta explicação: “A grande imprensa se portou como devia. Como não é pitonisa, como não é adivinha, desde o primeiro instante foi, honestamente, testando hipóteses, montando um quebra-cabeça que está longe do fim”.

As palavras evidenciam quanto a desonestidade do Kamel e da grande imprensa são infinitas, mas o fim da hipótese sobre as reais razões do acidente chegou ao tempo em que naturalmente chegam os resultados das averiguações de acidentes aéreos em qualquer parte do mundo: após e através de uma investigação técnica qualificada.

Ao contrário das apressadas hipóteses levantadas pelos supostos, ainda que não comprovados, conhecimentos aeronáuticos do editor de jornalismo da maior empresa de comunicações do país, os técnicos concluíram que a causa do acidente não estava em Brasília e nem nas ranhuras da recém reformada pista do aeroporto em São Paulo, e sim nos manetes que controlavam os motores da aeronave.

Apesar do despropósito para explicar o descalabro, a manutenção do “avião” Ali Kamel como editor de jornalismo da rede de emissoras de TV de maior público no território nacional é até compreensível. E os motivos, conhecidos desde o século passado. Mas, como hipotético integrante do universo composto pelo público da Globo, qual sua impressão sobre esse tipo de tratamento laboratorial a que é submetido diariamente?

Caso não tenha compreendido a questão, vamos a outro exemplo mais claro: em 23 de novembro de 2005 o apresentador do telejornal de maior audiência no país, dirigindo-se a 9 professores universitários, comparou o público de seu noticiário ao personagem de animação Homer Simpson.

Mais tarde explicou: “Jamais tive informação de que alguém guardasse imagem tão preconceituosa, tão negativa do personagem”.

Conforme a Wikipédia, Matt Groening, o criador do seriado A Família Simpson, encarnou em Homer: “alguns estereótipos cômicos de estadunidenses da classe trabalhadora: é rude, acima do peso, incompetente, grosseiro, preguiçoso, ignorante…”

Coincidentemente William Bonner é da mesma emissora de Kamel, mas se observar com atenção verificará que não apenas a Globo o trata como um estereótipo cômico com dificuldades intelectuais. Na comodidade de seu controle remoto poderá perceber que o nível de superficialidade jornalística equipara todos os públicos ao do Jornal Nacional. Qualquer deles o classifica como um Homer Jay Simpson.

E o mesmo ocorre com os principais veículos impressos que compõe o pool midiático identificado pelas siglas GAFE (Globo, Abril, Folha e Estado de São Paulo) – numa versão mais específica – ou, com maior abrangência, a de PiG – Partido da imprensa Golpista. A verdade é que salvas raras exceções, a mídia brasileira ignora informações a que hoje qualquer cidadão comum tem acesso pela internet.

Daqui desta pequena e isolada comunidade de uma Ilha posso avaliar a importância de nomes como Moni Ovadia ou Gore Vidal. Já os nossos formadores de opinião pública parecem ignorar até quem seja Dario Fo, um Prêmio Nobel, com diversas obras montadas no Brasil por nomes como Antônio Fagundes, Denise Stoklos, Marília Pera.

Longe de ser bem informado, na realidade desconheço praticamente todos os demais personagens e depoentes do documentário “Zero – Uma Investigação sobre o 11 de Setembro”. Mas por menor que seja, quando se me propõem que pense sobre o fato que afirmam ter “mudado o mundo”, minha inteligência me impede de desprezar a afirmação do construtor do WTC sobre o planejamento, projeto e construção das torres para “resistir a múltiplos impactos de aviões”.

No entanto, na semana que passou em cada emissora de TV e nas páginas de todos os jornais e revistas do Brasil me empulharam com a repetição de imagens da demolição das torres gêmeas como consequência da colição dos aviões. Devo deduzir que nossos jornalistas ignorem quem seja Frank de Martini tanto quanto eu?

Estranho, porque nos tempos em que exerci a profissão havia a preocupação de se apurar todas as informações possíveis sobre um evento, para daí então se informar o leitor ou telespectador. Buscava-se por elementos que possibilitassem, inclusive, a formação de nossa própria opinião para, como jornalistas, contribuir na formação da opinião pública.

Segundo Kamel a coisa mudou. Jornalistas brincam de quebra-cabeças e o público que se vire para desmontar a farsa, a mistificação da desinformação. Mas que raio de quebra cabeças é esse, onde se recorta peças inexistentes para encaixar nos buracos de interesses não revelados e se despreza as peças chaves? Nem pra brincar esses caras servem!

Numa ocorrência capaz de “mudar o mundo”, como afirmam, e com que 10 anos depois justificam preenchimentos de páginas e minutos com repetição das sempre mesmas imagens e informações superficiais, sem dúvida a palavra do construtor do WTC haverá de ter alguma importância. Nem que for para encher buraco nessa intransitável via de comunicação do nada!

Para a mídia brasileira, não! Não é a toa que, aqui, um Sérgio Naya fica impune e se condena as vítimas do Palace II. Ou seja, a cultura da nossa mídia impressa e eletrônica promove a manutenção de Homer Simpson, em quaisquer circunstâncias seja qual for à mão. Em qualquer direção, você é atropelado.

Enquanto permanecermos como público do William Bonner e seus colegas de profissão, eternamente seremos rudes, grosseiros, ignorantes e lesados pela própria incapacidade de raciocínio.

Temos visto por todos os veículos da nossa imprensa, muita gente assinando matérias e opiniões como analistas econômicos que ainda há a pouco previama bancarrota e falência do Brasil, por não seguir o modelo econômico ditado pelos Estados Unidos.

Algum desses “analistas” já lhe pediu desculpas? Algum deles já publicou uma nota reconhecendo ter lhe informado totalmente ao inverso do que hoje vêm acontecendo?

Entre uma repetição de imagens do WTC e outra, nesta semana também vimos o desesperado pedido de socorro dos países que utilizaram o modelo econômico aconselhado pelos “analistas econômicos” brasileiros. Pedem socorro financeiro exatamente as nações que não seguiram aquele modelo que promoveu a atual crise econômica que vêm castigando duramente todo o mundo.

Pedem socorro inclusive ao Brasil!

Algum colega da Mirian Leitão ou do Carlos Alberto Sardemberg aproveitou a oportunidade para lhe pedir desculpas por ter previsto errado? Por ter lhe informado uma inverdade? Por algo que aventaram e não se confirmou?

Não se confirmou nada do tudo que previam e não se desculparam aos que nele acreditaram? Pela Folha de São Paulo, pela Globo News ou quaisquer veículos da GAFE? Tsc.. Tsc… Tsc…!

E olha que não são apenas os peritos em economia. Em praticamente todas as áreas a imprensa brasileira há décadas prevê o que não acontecerá e alardeia o que não aconteceu.  Também nesta semana, apesar do PiG omitir, Roberto Jefferson desmentiu-se a si mesmo afirmando não ter ocorrido o mensalão. O mensalão! Aquele que ocupou tantas ou mais páginas e minutos do que implosão do WTC.

Você acreditou e papagueou o mensalão, não foi? O inventor, desinventou!

Mas, se tiver algum respeito próprio, convenhamos: você compraria um carro usado de Roberto Jefferson? A imprensa brasileira comprou e recheou minutos e páginas de todos os tamanhos com o fusca engasgado tentando o grave de um Rolls-Royce.

Quem é o Homer Simpson? Você?

No caso do WTC, essa mesma mídia insiste em ignorar as análises de um perito como Kevin Ryan, gratuitamente disponibilizadas pela internet. Repetem, há 10 anos, a mesmíssima informação sobre um fato que “mudou a história do mundo”, sem jamais questionar coisa alguma. Sem jamais consultar alguém mais apropriado para analisar um fato que envolve diversos outros. Outras culturas, histórias, sociedades, regiões do planeta. Movimentos religiosos de milenares origens, profusões de acontecimentos.

Claro que jornalistas não são nem devem ser historiadores ou enciclopédicos, mas se alguém reportar os efeitos do tsunami sobre as Filipinas, haverá de recorrer à pesquisa sobre opiniões de estudiosos e especialistas do assunto.

Onde? No caso das Filipinas é um pouco mais difícil, mas há um clique de distância nem é preciso prescindir do ar condicionado da redação de seus veículos (coisa de que não gostam mesmo de fazer) para ter alguma informação de tsunamis e das Filipinas.

Já William Rodriguez, condecorado como Herói Nacional dos Estados Unidos por sua atuação no WTC, é bem mais fácil.

Nunca antes ouvira falar do jornalista alemão Jurgen Elsasser nem do professor Nafeez da universidade inglesa, que pesquisam as origens da Al-Qaeda. Mas estão na internet. Giulieto Chiesa e a professora Marina Montesano também.

Dario Fo sempre se assumiu como anarquista, mas em todas as informações da internet não encontrei qualquer informação sobre os demais depoentes desse documentário que os identifique como comunistas, fanáticos antiamericanistas, fundamentalistas islâmicos. Pelo contrário! Muitos são militantes do judaísmo. Ou são coronéis, generais das forças bélicas dos Estados Unidos. Há anos funcionários do FBI!

À exceção dos sobreviventes, todos são especialistas respeitados tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.

A opinião desses especialistas só não é respeitada nem interessa à imprensa brasileira que, sem nenhum complexo de vira-lata, sou obrigado a reconhecer como a pior do mundo! Em tudo o que leio, vejo e recebo – seja da França, da Espanha ou dos Estados Unidos – em algum momento um desses nomes é citado, nem que seja para refutar suas interpretações.

Por que os jornalistas brasileiros ignoram o que, a um clique, se desdobra em muitas páginas de consulta eletrônica? Se tiverem preguiça de pesquisar assuntos dos quais falam tanto, repetindo as mesmas coisas, por que me comparam a Homer Simpson?

Só porque a Fatima Bernardes já posou para fotos eróticas de revistas masculinas? E daí? Tive e tenho muitas amigas que as revistas masculinas também desejariam.

Só porque o corte de cabelo do Bonner é mais refinado do que o meu?  No Rio, em São Paulo e no Recife tenho amigos que cortariam meu cabelo tão bem ou melhor. E de graça! Sem precisar de patrão (que não tenho) para financiar.

Mas é mais do que essa liberdade de cabeça a qual me refiro quando questiono sobre aqueles que se indicam, sob suas colunas, como “cientista político”. Que raio de ciência é essa?

Afora “Zero – Uma Investigação sobre o 11 de Setembro” nunca vi ou li qualquer questionamento a um físico como Steven Jones. Também nunca havia ouvido falar em Steven Jones, mas pelo que pronuncia no documentário, me convenceu ser cientista. E pelo que escrevem, ainda não encontrei um cientista político brasileiro que tenha me convencido que tal “ciência” exista.

Outro dia um desconhecido tentou me convencer das proficiências da “trautologia”. Logo percebi e dei uns centavos, arrependido de alimentar o vício ao crack, mas o que fazer se invadem até nossas salas com suas hipotéticas e absurdas explicações ao descalabro químico das comunicações desse país?

Arrumaram até um neurologista e um perito técnico para tentar provar a existência de um objeto invisível, mais contundente do que uma bolinha de papel! Incrível nunca ter lhes passado pela cabeça, careca ou capilar, a possibilidade de consultar um verdadeiro técnico sobre as probabilidades do derruir das maiores estruturas da arquitetura moderna!

Que jornalismo é esse?

O incêndio do Edifício Andraus iniciou às 16:20 do dia 24 de fevereiro de 1972. O prédio queimou de cima abaixo e somente às 22 horas foi possível retirar as últimas vítimas com vida e iniciar os trabalhos de rescaldo que se estendeu por dias.

Cinco horas e meia queimando do térreo ao último andar e o Andraus, construído em 1962, ainda está lá, em pé na Avenida São João. Para quem for à São Paulo ver.

Dois anos depois, às 8:54 da manhã do dia 1º de fevereiro de 1974, inicia-se o incêndio do Edifício Joelma na mesma São Paulo. Às 10:30 já havia queimado todo o material inflamável existente do térreo ao último andar. Apesar de engenheiros e arquitetos condenarem a imprevidência do licenciamento da obra concluída em 1971, conforme apontado numa produção norte-americana de curta metragem: “Incêndio”.

Então a mídia brasileira não responsabilizou o governo da ditadura militar, como no caso da TAM, mas de qualquer forma o Joelma ainda continua em pé, apenas rebatizado de Edifício Praça da Bandeira.

Somando, essas tragédias produziram 203 vítimas fatais. No WTC morreram aproximadamente 3 mil pessoas. Todos os veículos do GAFE e do PiG em geral enviaram correspondentes para Nova Iorque na ocasião do atentado e neste aniversário de 10 anos da tragédia. Até um programa de duvidoso humor ou duvidoso jornalismo mandou correspondente.

Parece-me possível que o programa ainda se defina por um humor jornalístico fora de dúvidas, mas o impossível é que a nenhum jornalista brasileiro ocorra a ideia de questionar algum especialista para explicar porque 57 minutos após o impacto, a primeira torre ruiu.

Talvez os nossos experientes profissionais de imprensa tentem me lembrar de que o Joelma e o Andraus não foram abalroados por nenhum avião. Nesse caso me cabe lembrá-los que em 1945 um bombardeiro North American B-25 Mitchel de 10 toneladas abriu um buraco de 5,50 por 6 metros entre o 78º e o 80º andares do Empire State Building, construído em 1931 (veem para o que serve alguma informação preliminar e um clique na internet?)

Um dos motores e o trem de pouso varou o 79º andar pelas paredes corta-fogo e foram atingir um edifício do lado oposto ao da colisão, na Rua 33 (e nunca fui correspondente em Nova Iorque. Só no clique!)

Com a explosão da gasolina o fogo se alastrou até o 75º andar do Empire State e só foi apagado 40 minutos depois. Duração de 17 minutos a menos do o que derruiu, segundo a versão oficial, a primeira torre do WTC.

Depois da II Guerra Mundial e do homem na Lua, só evoluímos 17 minutos?

Em compensação, ainda em pé, a estrutura de 1931 recuperou seu status de mais alto edifício de Nova York; perdido em 1973 com a inauguração do WTC. Dois anos depois do Joelma de São Paulo que uma das indicações o condenava por ter sido construído com tijolos vazados e sem qualquer medida de risco.

O World Trade Center?

Se os Homer Simpson da imprensa brasileira vão daqui à Nova Iorque sem estas informações básicas, como pretendem ser informantes? Se não conseguem formular um questionamento ao menos aproximado dos tantos apresentados no documentário “Zero – Uma Investigação do 11 de Setembro”, como podem pretender formar a sua opinião?

Ou a melhor pergunta será: como é que você deixa que formem sua opinião?

Se esse é o seu caso, desculpe, mas a única conclusão possível é a de que para ser público desses rudes, incompetentes, grosseiros, preguiçosos e ignorantes jornalistas brasileiros; você precisa se aprimorar. Você ainda não chegou ao nível de um Homer Simpson.

E se esse for o seu caso, certamente mais uma vez estará me acusando de teórico da conspiração, como muitos já fizeram. Mas, na verdade, o que me estimulou a distribuir este documentário não foram as exaustivas repetições das mesmas imagens e os mesmos textos supérfluos sem qualquer aprofundamento sobre um fato que desde o início insistem em afirmar que mudaria ou que mudou o mundo.

Em quê? Em todo o mundo o governo norte-americano continua praticando atos de terrorismo como o consumado em outro 11 de Setembro, no atentado de 1973 contra a democracia chilena. Muito mais chocante e covarde, com muito maior número de vítimas, e que realmente definiu o comportamento das duas potências mundiais sobre suas áreas de interesses, foram as bombas atômicas de Hiroxima e Nagasaki num país já arrasado e em meio a uma negociação de rendição.

Nunca os Estados Unidos pediram desculpas ao povo do Japão. Nem a GAFE ou o PiG à você. Por que devo condoer-me por eles ou lhes dar algum crédito?

Enfim! Não preciso de hipóteses para provar que os jornalistas brasileiros preveem mal e reportam ainda pior. Mas não pretendo nenhum “Pulitzer” por isso. Não me dignificaria em nada. Não com esses ex (felizmente) colegas.

O mundo não mudou em nada. Pare de acreditar nessa besteira que você sequer sente no seu dia a dia! E saiba que só me dei ao trabalho de repassar o “Zero – Uma Investigação sobre o 11 de Setembro”, pelas duas frases finais deste documentário.

Se já não lembra (se os brasileiros tivessem alguma memória todo o GAFE ia a falência) Robert McInvainc, que não é especialista em coisa alguma, apenas pai de um dos 3 mil assassinados no 11 de Setembro de Nova Iorque, declarou algo que pode resgatar as vítimas do 11 de Setembro brasileiro do atentado cotidiano em bancas de jornais, na caixa de correio dos assinantes, e na televisão da sua casa que o implode dia a dia.

“Nós temos que ouvir a verdade ou este país não vale nada.

Toda nossa estória não vale nada. E todas as pessoas deveriam estar envergonhadas por não querer ver a verdade.” – Robert McIvainc

 

 

 

 

 

 

 

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