11 de abril: golpe de Estado contra Hugo Chávez completa 18 anos

Relembre planos desestabilizadores mais emblemáticos em duas décadas de chavismo na Venezuela

Depois de 48 horas confinado, Hugo Chávez foi liberado por militares que o apoiavam e graças à pressão popular – Getty Images

Por Michele de Mello.

Neste 11 de abril de 2020, completam 18 anos da primeira tentativa de golpe de Estado conta o ex-presidente venezuelano Hugo Rafael Chávez Frías. O ex-comandante foi sequestrado por militares desertores, que colocaram em prática um plano arquitetado por setores tradicionais das classes mais abastadas do país, vinculadas à indústria privada do petróleo, e à Casa Branca.

Pedro Carmona, empresário, presidente da Federação de Câmaras de Comércio e Produção (Fedecamaras) apoiado pelos maiores partidos conversadores: Copei e Ação Democrática, autoproclamou-se presidente. A Assembleia Nacional foi destituída e o comandante das Forças Armadas, Efraín Vásquez ordenou suas tropas a levar Chávez para o Fuerte Tiuna, maior base da Academia Militar venezuelana.

Rapidamente, os governos dos Estados Unidos, Espanha, Equador, Colômbia e Nicarágua reconheceram a junta golpista cívico-militar.

Apresentado como algo “novo”, apenas dois ministros do “governo de transição” eram militantes ativos de partidos políticos. O suposto ministro das Finanças, Leopoldo Martínez, Primeiro Justiça, e o suposto chanceler José Rodríguez Iturbe, do partido democrata-cristão Copei.

Os jornais noticiavam que Chávez havia renunciado, no entanto nunca foram divulgados um pedido de renúncia oficial ou mesmo uma declaração nos meios de comunicação. Menos de 48 horas depois da desaparição de Chávez, seu gabinete de ministros, familiares e o vice-presidente constitucional Diosdado Cabello denunciavam o golpe.

Enquanto as grandes cadeias televisivas, como a Rádio Caracas TV (RCTV) – maior consórcio de rádio e televisão da época – optavam por completar sua programação com desenhos animados e interrompiam as transmissões com autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário fiéis a Chávez, milhares de venezuelanos cercaram o Palácio Presidencial de Miraflores para exigir que o presidente aparecesse.

Os chavistas também conseguiram recuperar o canal estatal e, quando a notícia do golpe passou a circular em várias regiões do país, alguns militares se rebelaram aos seus comandos. A Brigada de Paraquedistas de Maracay, 80 km a oeste de Caracas, lugar onde Chávez cumpriu serviço militar, foi uma das bases a se rebelar contra o governo golpistas e se aquartelar junto a vários altos oficiais.

Por causa das manifestações, Chávez foi transferido para a ilha de La Orchila, uma base militar a 100 km de Caracas.

Numa operação coordenada entre o chavismo organizado, o povo venezuelano e as forças armadas, o vice-presidente constitucional Diosdado Cabello conseguiu entrar novamente no Palácio de Miraflores, assumindo as funções de chefe de Estado até que em 13 de abril Hugo Chávez voltou à presidência.

Brasil de Fato indica dois documentários que contam em detalhes essa história: A Revolução Não Será Televisionada e Se Llama Abril y esa es Su Historia e o curta documentário: Todo 11 tiene su 13: El secuestro de un presidente.

Golpe atrás de golpe

De 2002 até hoje, o chavismo teve que enfrentar uma série de tentativas de golpe de Estado articulados entre setores da oposição, com apoio internacional dos Estado Unidos. Nessa linha do tempo elencamos alguns dos eventos mais emblemáticos desses últimos 18 anos:

Dezembro de 2002: Lock out petroleiro 
No mesmo ano da primeira tentativa de golpe, o empresariado representado por Pedro Carmona, que voltou a presidir a Fedecâmaras, aglutinado com altos funcionários da indústria petroleira na “Coordenadora Democrática” paralisou o sistema automatizado da Petróleos da Venezuela (PDVSA), empresa que até então era de propriedade mista.

Durante dois meses de paralisação – entre dezembro de 2002 e fevereiro de 2003 –, o desabastecimento de combustível foi generalizado e a sabotagem à exportação de petróleo provocou o desemprego de 500 mil pessoas, aumento de 19% do índice de inflação e diminuição de 9,4% do PIB.

A manobra golpista gerou um prejuízo de cerca de US$ 20 bilhões de dólares para a empresa e a redução de 27% da sua atividade econômica, segundo dados do Banco Central. A sabotagem buscava gerar inconformidade generalizada para ter apoio popular à derrubada de Chávez.

Com apoio de especialistas que estavam do lado do chavista, o sistema da PDVSA foi reativado e o governo completou o processo de estatização da indústria petroleira do país, por meio da Lei de Hidro carburantes.

Maio de 2004: Operação Daktari
As forças armadas venezuelanas encontraram 153 paramilitares colombianos na fazenda Daktari, município de El Hatillo, grande Caracas. A ideia era assassinar o presidente Hugo Chávez, provocar uma guerra e justificar uma intervenção militar por conta da violência gerada pelos paramilitares colombianos.

O plano foi descoberto pela inteligência militar venezuelana e revelado por Hugo Chávez, em uma transmissão televisiva em cadeia nacional, durante o programa Alô Presidente.

Fevereiro de 2014: La Salida
Já sob governo de Nicolás Maduro, a menos de um ano do falecimento do comandante Hugo Chávez, os maiores de partidos de oposição iniciam atos violentos de rua.  O plano chamado “La Salida” deu início à tática que ficou conhecida como guarimba.

Maria Corina Machado, da organização Vente Venezuela e Leopoldo López, que na época pertencia ao partido Primeiro Justiça e agora faz parte do partido Vontade Popular, coordenaram as manifestações que incendiaram ruas e instituições públicas na capital e nas cidades mais importantes do país.

Os opositores não reconheceram sua derrota eleitoral nas eleições municipais de dezembro de 2013. A violência deixou 44 pessoas mortas e 878 feridas.

Abril a Julho de 2017: Guarimbas
Três anos depois, os partidos de extrema direita que hegemonizavam a Mesa de Unidade Democrática (MUD), aliança eleitoral opositora, decidiram novamente apostar em atos violentos para tentar derrubar o presidente Nicolás Maduro.

O estopim foram as sentenças judiciais 155 e 156 do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela que definiam que o TSJ assumiria as funções do Legislativo até que ele deixasse de estar em desacato com a Justiça.

Em 2015, quando iniciou o ano legislativo, deputados que tiveram sua candidatura impugnada foram empossados pela AN, de maioria opositora, a máxima corte de justiça decretou que todas as ações do parlamento seriam consideradas nulas até que os parlamentares fossem destituídos.

A segunda edição das guarimbas deixou um saldo de 172 falecidos, 29 pessoas queimadas vivas, cerca de 300 presos e 913 ataques a instituições públicas, incluído a sede do Ministério de Vivenda, que abrigava uma creche com mais de 100 crianças afetadas.

Agosto de 2018: Ataque com drones contra Maduro
Durante o desfile militar de 81 anos da Guarda Nacional Bolivariana (GNB), na avenida Bolívar, centro de Caracas, dois drones com explosivos foram lançados contra o palco, onde se encontrava o presidente Nicolás Maduro, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte Diosdado Cabello e outros representantes do gabinete Executivo.

O plano havia sido facilitado pelo ex-deputado Júlio Borges, do partido Primeiro Justiça, que enviou as aeronaves e explosivos da Colômbia. Paramilitares foram treinados em um acampamento na cidade colombiana de Chinácota, Norte de Santander.

Nessa tentativa de assassinato do presidente, sete militares terminaram feridos.

Fevereiro de 2019: Entrada de “ajuda humanitária”
O ano de 2019 começou com a autoproclamação do deputado do partido Vontade Popular, Juan Guaidó como presidente “encarregado” da Venezuela. O discurso oferecido em um ato público daria início a uma nova onda de planos desestabilizadores.

Pouco mais de um mês depois, em 23 de fevereiro, Guaidó, junto a opositores venezuelanos e estrangeiros do chavismo, organizou o evento Venezuela Live Aid para supostamente levantar apoio internacional para forçar a entrada de caminhões com suposta ajuda humanitária.

Os insumos seriam doações da Usaid e entrariam à força pela fronteira com a Colômbia e com o Brasil, mesmo sem permissão das autoridades venezuelanos. Paramilitares e opositores queimaram os caminhões na fronteira colombo-venezuelana.

Mais tarde foi confirmado que os caminhões carregavam máscaras e outros materiais para realizar manifestações e que o dinheiro enviado do exterior foi usado pela oposição guaidosista para uso pessoal. A proposta era invadir a Venezuela com tropas militares estrangeiras e paramilitares, tentando controlar parte do território do país.
Março de 2019: Apagão nacional 
Com uma sabotagem ao sistema operacional da usina elétrica de El Guri, cerca de 80% sofreu um blecaute total por quase uma semana. A falta de energia também provocou o desabastecimento de água em 18 dos 23 estados do país.
O deputado Juan Guaidó e o senador republicano Marco Rubio publicaram mensagens sugerindo que o apagão levaria à destituição de Maduro.

Funcionários da empresa elétrica diretamente responsáveis pelo ataque ao computador central de El Guri foram presos e depois de duas semanas o Estado conseguiu restituir o serviço elétrico.

O plano da oposição era gerar desabastecimento e caos social para provocar um estopim para a derrubada do presidente constitucional.

Abril de 2019: Tomada base aérea 
Na manhã do dia 30 de abril, Juan Guaidó e Leopoldo López, ambos do partido Vontade Popular, junto a outras figuras dos cinco maiores partidos opositores e alguns militares desertores tentaram tomar a base aérea militar General Francisco de Miranda, na região de La Carlota, zona leste da grande Caracas.

Segundo o plano inicial, outro grupo avançaria contra o Palácio de Miraflores, com armas que haviam sido roubadas da guarda presidencial.  No entanto, o povo venezuelano organizado organizou uma vigília para proteger a sede do governo.

Passadas poucas horas, vários militares assumiram que haviam sido enganados pelos seus superiores. O motim foi desmobilizado pela Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb).

Cerca de 50 pessoas terminaram feridas. Leopoldo López fugiu da prisão domiciliar para pedir asilo político na embaixada espanhola e Juan Guaidó foi denunciado pelo Ministério Público venezuelano.

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