Florianópolis, 19 de julho de 2015.

Na coroação de Alejandro V, como papa da igreja católica no ano de 1409, um novo elemento foi somado à liturgia. Um sacerdote interrompeu três vezes a cerimônia, como parte do ritual, para queimar algumas ramas de linho e, assim que o fogo as consumiu, dizia dirigindo-se ao santo padre: “Sic transit gloria mundi”. Uma reflexão que em latim significa “Assim passa a glória do mundo” para recordá-lo a efemeridade dos triunfos mundanos. Este ritual  tradicional se manteve até o século passado, embora as ramas de linho tenham sido substituídas por uma fagulha de magnésio.

É uma pena que esse ritual de advertência não seja utilizado com os novos presidentes da Câmara e do Senado no nosso país. Não porque se trata de um talismã efetivo contra a soberba dos políticos medíocres, mas para educar a cidadania sobre a necessidade de manter um rigoroso controle e uma forte indignação diante da petulância política.

Esses sentimentos afloram quando se olha a fotografia de Renan Calheiros e Eduardo Cunha em atitude de triunfo enquanto tapam suas bocas para que os jornalistas não possam ler em seus lábios os previsíveis comentários sobre a impunidade diante da prática recorrente de suborno.

Pois bem, em meio a esse triunfalismo antecipado ocorreram dois fatos que provocaram mudanças significativas nessa situação de crise institucional ou de hegemonia política no país. Na terça-feira, 14 de julho, a Polícia Federal cumpriu mandato de busca e apreensão nas residências funcional e particular do senador Fernando Collor, nas quais foram apreendidos documentos, computadores e bens, entre eles três carros de luxo avaliados em cerca de R$ 6 milhões.

A operação não tinha como objetivo a morte senatorial de Collor de Melo em sobrevivência política artificial, tratava-se de um aviso subliminar para que Renan Calheiros tomasse consciência de que tinha pendente uma ameaça de busca e apreensão à sua casa, pela Operação Lava Jato. E de rebote estava também dirigida ao arrogante Eduardo Cunha que começava a gerir uma aparição em cadeia nacional de rádio e televisão para dar impulso às retrógradas medidas aprovadas pela Câmara no primeiro semestre.

Mas o golpe de fundo foi o vídeo do delator Julio Camargo acusando Eduardo Cunha de cobrar 5 milhões de dólares de propina por uma gestão relacionada à Petrobras. Cunha, que tinha engavetados os pedidos de investigação da Justiça da Câmara que o incluíam junto a outros de seus acólitos do lobismo empresarial, perdeu toda a compostura e o barco dos lobistas empresariais, o qual controlava, começou a afundar. Cunha anunciou o seu rompimento com o governo de Dilma Rousseff. E, na última sexta 17 de julho, o deputado Silvio Costa (PSC), pernambucano como Severino Cavalcanti, de oportuna memória afirmou que “do ponto de vista moral, ele (Cunha) perdeu as condições de continuar à frente da Câmara” (…) “Por muito menos, a Casa destituiu o Severino.”

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