10 anos de golpes de Estado fascistas no mundo

Por Laura Gontijo.

Os golpes de Estado recentes contam com uma característica comum importante: possuem ações de caráter tipicamente fascista.

Bolívia, 2019

No mais recente deles, o golpe militar na Bolívia, este ano, isso ficou evidente no episódio envolvendo a prefeita Patrícia Arce, do município de Vinto, do Departamento de Cochabamba. Ela foi sequestrada, cortaram seu cabelo, jogaram tinta vermelha no seu corpo, mijaram nela e a obrigaram a caminhar pelas ruas cercada por um cordão de isolamento com homens que gritavam “assassina de merda”. Os abusos duraram três horas e a polícia só interviu quando ficou evidente que ela iria ser morta. Isso tudo após atirarem fogo no prédio da prefeitura. O episódio lembrou as perseguições aos judeus na Alemanha nazista.

Os incêndios às casas de parentes de autoridades e de autoridades do governo de Morales, a entrada da autoproclamada presidente Jeanine Áñez ao Palácio do Governo com uma bíblia como símbolo do novo regime golpista e a queima das bandeiras Wiphalas, símbolo dos povos andinos, também reforçam o caráter fascista do golpe de Estado na Bolívia.

Mais recentemente, segundo a Carta Capital, há hordas de fascistas que andam em carros com porretes na mão para aterrorizar índios, a quem chamam de “collas”, e agridem mulheres de pollera. Cantam refrão sobre a necessidade de matar “collas”. Levam tacos de beisebol, correntes, granadas de gás e armas de fogo para agredir mulheres camponesas.

Brasil, 2016

No Brasil, o golpe de Estado de 2016 também contou com um forte componente fascista, tendo sido precedido por ataques a sedes de sindicatos e partidos políticos e agressões nas ruas a pessoas que utilizavam vermelho ou se definiam como de esquerda. O golpe, por fim, permitiu a ascensão de um governo tipicamente fascista ao poder, como assistimos hoje e permitiu a escalada de agressões contra negros, mulheres, homossexuais.

Ucrânia, 2014

Na Ucrânia, em 2014, o golpe levou ao poder organizações declaradas neonazistas e deu início à divisão do país e à guerra civil.

Cinquenta pessoas foram queimadas vivas por neonazistas dentro da sede da Casa dos Sindicatos de Odessa, no que foi talvez a cena mais brutal do golpe. Nos últimos cinco anos, desde o golpe, dezenas de jornalistas e opositores ao novo regime foram mortos ou presos. Há marchas fascistas nas ruas e acampamentos de verão para educação das crianças. Uma lei que ainda está sob apelação proíbe a existência do Partido Comunista da Ucrânia. Seus apoiadores enfrentam ataques violentos quando se reúnem em público. O batalhão neonazista de Azov na Ucrânia treina fascistas de todo o mundo, segundo relatos.

Tailândia, 2014

Na Tailândia, em 2014, o golpe assumiu imediatamente um caráter militar e fascista. Os golpistas suspenderam a constituição, decretaram o toque de recolher, interromperam a programação dos canais de televisão, que passaram a transmitir somente material do Exército e enviaram tropas para reprimir qualquer resistência.

Egito, 2013

No Egito, a ditadura militar de Al Sisi responsável pelo golpe de Estado de 2013 que derrubou o presidente eleito Mohamed Morsi reprimi com mãos de ferro quaisquer protestos contra seu governo. O primeiro presidente eleito Mohamed Morsi acabou morrendo na prisão, onde vinha sofrendo maus tratos, em junho deste ano. Durante o golpe, 1.400 pessoas morreram. Hoje, 61 mil cidadãos que se opõem à ditadura se encontram presos, dois jornalistas se encontram desaparecidos e a acusação é de execução extrajudicial, dezenas de partidos foram colocados na ilegalidade e há prisões secretas onde mais de 150 pessoas já foram executadas sob custódia policial e há centenas de relatos de pessoas que sofreram torturas.

Paraguai, 2012

No Paraguai, após o golpe em 2012, foi instaurada nova Lei de Segurança Interna que permite ao governo, sem aprovação do parlamento, a militarizar e declarar Estado de Sítio em regiões inteiras. Além de aprovar a Aliança Público-Privada para permitir a intervenção de empresas nos serviços que são providos pelo Estado.

Honduras, 2009

O golpe em Honduras, em 2009, que foi o início de todos os demais, levou o país à uma ditadura e resultou em 150 mortos. Dez anos após o golpe, protestos contra os golpistas foram impedidos de se realizarem. E o atual presidente Juan Orlando Hernandéz realiza a privatização da saúde e da educação do país.

Os golpes de estado dos últimos dez anos assumem um caráter tipicamente militar e fascista. Em todos há o apoio direto do imperialismo e um plano de privatizações, pois o objetivo é saquear as riquezas do país. Algo que fica cada vez mais claro conforme o roteiro do golpe se repete em diferentes países é a estreita vinculação entre militarismo, fascismo e neoliberalismo. Para dar o golpe precisam do Exército e das organizações fascistas por baixo para atacar a resistência popular. E o objetivo é instaurar um regime neoliberal voraz para subjugar ainda mais esses países ao imperialismo. Por isso que a luta hoje contra o fascismo é fundamental.

 

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