“Soldados: das bases dessas pirâmides 80 milhões vos contemplam!”


Por Raul Longo.

Não foi bem assim, mas empoado como um Fernando Henrique qualquer, mais ou menos isso disse Napoleão ao seu exército.

Na verdade, se referia à história. Mas não pensem que a história de Kemet se confunde com a do Egito de hoje. Nem tanto! Aliás, em copta, que foi uma das línguas faladas pelos antigos egípcios, era Kimi. Kime também. Há uma representação gráfica para indicar a fonética correta da primeira sílaba, mas esse computador, aqui, não a reproduz.

Impossível aos computadores respeitar toda a história. Mas Napoleão, frente a frente com 4 mil anos passados, refreou o saque de seus soldados.

Napoleão era um general e se tem uma coisa que os donos de Poder respeitam, são os templos da morte.

Quem já ouviu alguém de Poder dizendo que dessa vida nada se leva? Quem diz isso está pouco se importando com o Poder, mas aos que a ele se dedicam é só o que interessa e respeitam na cega obsessão pela eternidade.

Uma falácia, pois se vão iguais a todos os demais seres vivos. No entanto, aí estão as pirâmides para demonstrar que sempre foram assim: no Egito, na Mesopotâmia, no México, na Guatemala, no Peru. Em distintos e diferentes estilos, ainda que todas piramidais. Mais ou menos erodidas pelos ventos e a fricção das areias dos tempos.

Mentindo-se, se sucedem os donos do Poder na história, construindo seus templos da morte e sendo lembrados como sanguinários, espoliadores, tiranos, estóicos, desequilibrados, loucos, egocêntricos, megalomaníacos.

Como Napoleão que, apesar de não ter construído pirâmide, fez lá o seu Arco do Triunfo antes de morrer exilado da Ilha de Santa Helena. Segundo alguns, envenenado por arsênio; para outros foi suicídio e há quem cogite que sucumbiu à mesma sífilis que matou tantas prostitutas, rufiões, ricos e miseráveis da revolução que Bonaparte traiu.

Esse é o grande erro da multidão que não deseja a eternidade, mas abandona as praças revolucionárias. Compreensível, afinal se ali estão para defender o direito à vida, não há porque querer se expor à morte.

O doentio fascínio é doença dos que não encontram melhor sentido no viver que não seja eternizar o Poder. Aí é só a multidão desocupar as praças, e lá estão eles de volta, com seus intentos fúnebres, promovendo mortandades, genocídios e até extinção de etnias. Como, talvez, tenha ocorrido com os antigos egípcios que não eram semitas como os atuais.

Aí pelos anos 70 conheci alguém que conheceu um casal de cabelos negros e escorridos, altos e longilíneos como aqueles personagens desenhados nas pirâmides e muito diferente dos árabes de nariz adunco e cabelos ondulados. Afirmaram a este que me relatou o encontro, serem dos últimos de cerca de 100 indivíduos da verdadeira etnia egípcia.

Fiquei imaginando se não em razão dos templos da morte foi que se iniciou a extinção daquele povo, consagrado como uma das primeiras civilizações humanas? Mas lembrei-me que o povo de Kemet, a palavra que identificava o país pela fertilidade das terras negras à margem do Nilo, começou a ser extinto pelo Império Romano na época de sua última rainha, a famosa Cleópatra.

Já Cleópatra também não era de etnia egípcia e, sim, macedônia. Vinha da linhagem de Alexandre, o Grande, outro dono do Poder que ali fizera uma importante cidade em própria homenagem: Alexandria.

Pirâmides, pontes, arcos, cidades ou avenidas são tudo o que querem os donos do Poder, para se mentir eternos. E só por isso sacrificam multidões.

Cleópatra não chegou a tanto, mas pelo Poder casou com o próprio irmão a quem depois mandou matar para, mais tarde, enrolada num tapete, se entregar a César de presente. Depois se deu ao Marco Antônio e acabou suicidando-se pela picada de uma naja.

Essa gente de Poder é assim mesmo. Ridículos e trágicos, não têm medidas. Querem é entrar para a eternidade e pouco lhes importa quem ou quantos sofram, morram ou tenham de matar.

Mas Cleópatra ao menos tinha mais dignidade, pois estes tiranetes ou títeres do atual Império, quando corridos pela multidão, covardemente se acoitam entre aliados, pagando com os resquícios dos enormes saques a seus povos, o aluguel da impunidade. Foi assim com o Ferdinando Marcos das Filipinas, o Reza Pahlavi do Irã, o Fulgêncio Batista de Cuba e tantos outros como o Stroessner que veio dar com os costados aqui em Brasília.

Sendo amigos do Império, raros como o Fujimori são os que têm de responder por décadas de miséria e fome impostas a seus povos. E não há sequer uma ação da comunidade das nações, de seus órgãos representativos, que se preocupe em legitimar a condena reservada apenas aos inimigos do sistema Imperial. Como rapidamente aconteceu com Sadam Hussein, por exemplo.

Fujimori só está nos cárceres por próprio descuido, pois com todos seus códigos samurais e rituais de harakiri, o Japão continuaria desonrando o mundo no vergonhoso acobertamento do tiranete. Como a vitoriana Inglaterra em suas decadentes pompas, protegeu a Pinochet. E outros protegerão Berlusconi no dia em que a Itália finalmente concluir que isso de Dom Corleone fora do cinema é uma verguenza universal. E não estou falando da Universal Pictures, pois não sei quem produziu o sucesso de bilheterias do qual nem o Coppola gosta.

Mas, enfim, parece que as coisas estão mudando nos últimos anos desses quarenta e dois séculos (incompletos, pois Napoleão morreu em 1821). Pergunto-me por quê? E especulo:

Será pela democratização dos meios de comunicação?

Sem dúvida, influencia. Ainda outro dia mesmo, pelo 4º vez nossa Cleópatra deu calote no Ministério da Cultura que há 6 anos financiou, com nosso dinheiro de impostos, a pirâmide do Instituto Fernando Henrique Cardoso. E a informação já circula pela internet, somando mais uma desqualificação ao recheado currículo do candidato à imortalidade.

Evidente que a despeito de tão lauto histórico ainda persistem os admiradores de Faraós, já ofendidos em seus brios machistas por esta despropositada comparação. Longe de mim, pôr em questão a masculinidade do pai do enteado da Rede Globo e garanto que a relação só me surgiu pelo episódio do tapete de Cleópatra me ter feito lembrar a cena do Celso Lafer tirando sapatos para pisar em solo da sede do Império.

Se não isso, provavelmente porque Cleópatra também falava 6 idiomas. De qualquer forma, fato é que os escândalos de Cleópatra já não passariam tão despercebidos aos da base da pirâmide, por mais que seus procuradores tentassem engavetar processos.

E mesmo que Cleópatra fosse acobertada pelos Césares, não há Obama que aguente 80 milhões de egípcios, de quais etnias sejam, pedindo por Diretas Já.

Nós, aqui, sabemos o que é isso! Lembramos bem daquele povaréu na Candelária e no Vale do Anhangabaú a gritar “Fora Globo que o povo não é bobo!”, quando botamos os sacerdotes do Poder de volta aos quartéis.

E olha que naqueles tempos não havia celular nem internet!

Hoje tem. E, além disso, ainda que os quartéis continuem sendo templos do Poder, já não é mesma coisa explodir bomba em show do Rio Centro. Não pelo risco de explodir no colo de quem a deva detonar, mas é porque usar armas químicas de Israel pra dispersão de multidão, acaba dando em morticínio de proporções napoleônicas que só à impunidade sionista pelo massacre de Gaza se faz, ainda, possível.

Então, fica como? Se as instituições internacionais não se fazem justificar como tal, como se resolve a barbárie institucionalizada pelo Império?

Claro que ainda é cedo para se vislumbrar uma mobilização internacional por algo real e concreto, como aquela que tanto festejou nos quatro cantos do mundo, a ilusão do arigofe da Casa Branca.

O computador, aqui, destacou em vermelho a palavra “arigofe”. Se nada sabe do extinto idioma copta, vai saber o que de cultura popular brasileira? Antes que seja mais uma a se extinguir, explico que “arigofe” é ou era um boneco que representava o Baltazar, o Rei Mago Negro, nos ternos de reis da Bahia.

Voltando ao Poder no mundo aonde, apesar da omissão das instituições internacionais, a base da pirâmide vai se descobrindo capaz de desestruturar o ápice ou vértice como preferem os geômetras; cada tiranete e dono de Poder, a seu modo e com a ajuda das Globos de plantão têm tentado dar um jeito. Mas não tá fácil!

Tá difícil porque nem as Globos já não são mais tão globais assim e até Goebbels, se vivo estivesse, repensaria sua velha máxima.

É o tal do empoderamento! Não foi a toa que a Igreja Católica se indispôs com o Gutenberg e aquilo foi só o começo. Se ali estremeceram as tumbas, a tecnologia com suas WikiLeaks e que tais, estão fazendo estremecer os sarcófagos.

Por outro lado, há algo maior e não é o frio siberiano a derrotar exércitos de francos ou germânicos. É, sim, uma multidão intransponível e que há qualquer momento se torna inegável até pela mais omissa das mídias.

O dia em que os australianos resolverem sacudir o censo crítico há décadas obliterado, conforme contam os amigos de lá, e se constituírem em multidão; nem Rupert Murdoch segura tamanho isolamento de um mundo que se aproxima e tem de se aproximar pela sobrevivência das gentes. E do gene humano.

É verdade que os donos do Poder não vão abrir mão tão fácil e temos aí demonstrações de golpes financiados pelo Império, como no exemplo de Honduras. Mas uma coisa é instaurar nazistóides no Brasil dos anos 60 ou no Chile dos 70. Hoje, até em Honduras foi e está difícil. Têm de matar gente quase todos os dias e, por sorte deles, a mídia internacional esconde.

O dia que não der pra esconder, mais, ou que a multidão de lá voltar às praças, já que o risco é o mesmo, a coisa pega.

À cavalo ou camelo e uma quantas chibatadas distribuídas prum lado e outro, antes se calava o Zé Povinho; mas do que vimos e falamos agora, é da base da pirâmide. Uma base que, em todo o mundo, já não se dispõe a suportar o peso das múmias da mentira da eternidade.

Mas a indecência e a mentira não são exclusivas dos Faraós. É intrínseca a todo o sistema que mantém e são mantidos pelos donos do Poder. Por exemplo, a revista Forbes, uma porta-voz do Império, há algum tempo atrás apontou Fidel Castro como das maiores fortunas internacionais depositadas em contas bancárias de paraísos fiscais.

Fidel apostou seu governo contra a indicação, pela Forbes, de um banco fora de Cuba onde houvesse um dólar depositado em seu nome. Há décadas o Império mantém o povo cubano nas agruras através de um insano e desumano bloqueio e, de repente, anuncia-se ao mundo que bastava a Forbes localizar uma única conta bancária para a Ilha voltar a ser o alegre prostíbulo de outrora.

Mesmo que o demonizado ditador faltasse com a palavra, estava ali a grande oportunidade para o Império justificar um de seus crimes contra a humanidade. No entanto, viola no saco, a porta voz nunca mais tocou no assunto.

E há quem se lembre de a Forbes alguma vez publicar uma linha sobre as fortunas dos ditadores protegidos pelo Império? São tantos! Só os da África, não cabem nos dedos das mãos.

Se os dedos não dão conta de enumerar os amigos do Império no continente africano ou no mundo árabe, para calcular os milhares de famintos desses continentes se terá de avaliar as fortunas de cada milionário dos Estados Unidos, pois apenas a comissão aos tiranos designados em cada um desses países, embora já resolvesse parte de seus profundos problemas sociais, é somente a sobra. A porcentagem para manutenção daquilo que o demente ególatra acredita como direito à eternidade.

Nesses casos a Forbes perde a conta ou se perde da conta, pois não é sua função contabilizar quantas crianças dormem ao relento no mundo e muito menos lembrar que nenhuma é cubana.

Tampouco haverá de cogitar sobre quantas crianças se expõem às intempéries da Praça Tahrir, quando não é ocupada pela base da pirâmide.

A função não é da Forbes nem da UNICEF. É de quem, então?

E o dia em que a multidão se perguntar ou quiser uma resposta?

É verdade que ainda seja cedo para comemorar, afinal os sacerdotes do Poder continuam mantendo os interesses do Império, mas já se têm a impressão de que a era das múmias está chegando aos últimos anos do mito da eternidade.

Pudera! Se não for assim, não haverá etnia que sobreviva no mundo.

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